quinta-feira, março 16, 2006

Aula 16/03

Caros,
vamos ler com atenção a seguinte entrevista e transformá-la em uma matéria de texto corrido com 30/40 linhas. A idéia é que vocês elejam as principais falas do entrevistado e as distribuam em forma de declaração aspada, diluindo-as também no próprio discurso indireto da notícia.
Um dos ganchos, reparem, é o livro que o entrevistado acaba de lançar.
Vamos aos dados e à entrevista:
Entrevistado:
consultor Ricardo Neves, que acaba de lançar o livro Pegando no Tranco, pela editora Senac-Rio (200 pg, R$ 29).
Experiência:
gestão de projetos para as Nações Unidas, Banco Mundial e Banco Interamericano

Cargo atual:
Diretor da empresa de consultoria empresarial itC
Vida pessoal:
tem 49 anos, mora no Rio e é casado. Graduado em Engenharia pela PUC-RJ, tem mestrado pela UFRJ

Pergunta- O Brasil não é pobre?
Ricardo Neves - Essa é uma forma obsoleta de perceber o Brasil. A base usada para medir a pobreza é o orçamento familiar. Os pesquisadores perguntam a um representante de cada domicílio qual é a renda média mensal. Como mais da metade dos trabalhadores está no mercado informal, é difícil que esse dado corresponda à realidade. Uma diarista na zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo, cobra de R$ 60 a R$ 70. Se fizer quatro faxinas por semana, ganhará cerca de R$ 1.000 por mês. Nas pesquisas de governo, como o Censo, o Pnad e a Pesquisa de Orçamento Familiar, aparece como desempregada.

P- Como se pode medir a pobreza do Brasil?
Neves - Da mesma maneira que as pesquisas de mercado fazem. Os institutos contratados acham que o indicador renda não é confiável. Eles preferem medir a penetração de serviços e de bens de consumo e analisar o estilo de vida. Quando o pesquisador bate em sua porta, não pergunta quanto você ganha. Ele pergunta coisas que você não tem problema em responder. Por exemplo: você tem carro? Televisão? DVD? Qual seu nível de escolaridade? Essas perguntas permitem ao setor privado saber qual é a disponibilidade do domicílio para comprar bens e produtos. Os institutos percebem que as contas não fecham. Nas favelas do Rio, 14% dos domicílios têm carro, 22% têm microondas e 48% têm lavadora de roupas.

P - Mas o endereço continua na favela.
Neves - Uma coisa é pobreza, outra é baixa renda. No Rio, existe 1,8 milhão de domicílios. Desses, 300 mil estão em favelas. Percebemos que esses domicílios não representam mais a pobreza. Na nossa visão de classe média, olhamos para aquela alvenaria, o tijolo à mostra, e identificamos um sinal de pobreza. Não é assim. A primeira prioridade da pessoa de baixa renda é aumentar a metragem quadrada. Ela é de uma primeira geração que veio do Nordeste, passou a receber parentes, seu filho casou. A segunda prioridade é equipar a casa com eletrodomésticos.

P - A pobreza então é mais aparente que real?
Neves - O que vemos na rua altera nossa percepção. A revista Time publicou que o Brasil tinha 15 milhões de meninos morando na rua. Em 1997, o sociólogo Betinho criou uma metodologia para contar os menores abandonados. Ele percebeu que era preciso separar menino que está na rua de menino que vive na rua. Também viu que eles ficam juntos e próximos a locais onde se abastecem de comida. Ele aplicou esse método no Rio e chegou à conclusão de que havia menos de mil meninos de rua. Outras prefeituras fizeram o mesmo e chegou-se à conclusão de que não havia mais de 20 mil crianças de rua no Brasil.

P - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse certa vez que o Brasil não é pobre, é desigual.
Neves - Isso também é falso, por conta da metodologia utilizada pela ONU. Para começar, índices diferentes de anos diferentes são misturados. São avaliados dados de renda - que têm o problema da informação falsa - e dados de consumo. É juntar abacaxi com laranja. Além disso, o Brasil apresenta índices recentes, mas as informações de Serra Leoa, um dos poucos países que estão atrás de nós, são de 1989. Por último, as realidades dos países são completamente diferentes. Serra Leoa tem 61% das pessoas na zona rural. Como pode ser comparado ao Brasil?

P - Qual é então o grande problema brasileiro?
Neves - Assim como a inflação foi nosso dragão tempos atrás, a informalidade é nosso câncer que está entrando em metástase. A informalidade tem três eixos. O primeiro são os direitos de propriedade. Os barracos das favelas não podem ser comercializados, não podem ser usados para conseguir crédito. O segundo é o trabalho. Estima-se que entre 55% e 60% dos trabalhadores estão na informalidade. São pessoas que não contribuem, não pagam INSS. A carga tributária fica concentrada nos 40% restantes da população. O terceiro é a informalidade na cadeia produtiva. São empresas que estão fora da lei, seja porque os tributos são altos, seja porque a burocracia é complicada.

P - Por que o senhor diz que o Brasil não é um país corrupto?
Neves - A corrupção aparece em todas as democracias. Sempre que há transparência aparece rabo preso. Isso é um bom sinal. No Brasil, temos rotatividade no poder. Temos também ONGs que monitoram as contas públicas. Há liberdade de imprensa. Na crise do mensalão vimos um trabalho exemplar dos veículos de notícia. A Lei de Licitação Pública é de 1992. Até então, obras faraônicas eram construídas por indicação de ministros. Há a Lei de Responsabilidade Fiscal. Temos portais eletrônicos do governo que permitem monitorar os empenhos do Tesouro Nacional.

P - E a classe média não está encolhendo?
Neves - Encolhendo, não. Mudando. Essa classe média é herdeira da porção de Bélgica da Belíndia (mistura de Bélgica e Índia, expressão usada na década de 70 para explicar a desigualdade no Brasil). Ela antes tinha acesso ao sistema financeiro habitacional, a universidades públicas, à expansão de empresas estatais cheias de ofertas de trabalho e à indexação, que reajustava o dinheiro nos bancos. Na década de 90, essas facilidades acabaram e a classe média passou a ter mais gastos. É como se ela tivesse viajado sempre de executiva e agora tivesse de andar de econômica. Em compensação, existe uma população que era de baixa renda e ascendeu. É gente de bairros como Nova Iguaçu, no Rio, ou São Caetano, em São Paulo, que não estava no mapa tradicional da classe média.

P - O senhor não tem uma visão muito otimista do Brasil?
Neves - Não. As perguntas mudaram. Sai a questão da pobreza, entra a da informalidade. Existe um estatismo exagerado. O Brasil tem 5.577 cidades. Mas os municípios viáveis estão em cerca de dez regiões metropolitanas, que somam no máximo 300, 400 cidades. O resto vive à base de fundos de participação municipal. É aí que temos de resgatar a semântica positiva da palavra elite. Precisamos ser mais produtivos.

Fim

domingo, março 12, 2006

Jornalismo Econômico: a Sedução do Poder


Por José Antônio Sarcinelli
(Repórter da Editoria de Economiado Jornal "A Gazeta" - Vitória- ES)

Uma leitura rápida nas páginas econômicas dos jornais de hoje é suficiente para perceber que a reportagem de economia passou a concentrar seu foco em apenas um segmento da sociedade: a classe empresarial e seus representantes. As equipes de reportagem estão posicionadas junto ao poder político e econômico - presidente, governadores, prefeitos, deputados, ministros, senadores, vereadores e empresários - vendo o país e sua realidade econômica e social apenas pelo ângulo do poder, ignorando a parcela mais significativa da sociedade: trabalhadores, aposentados, donas-de-casa, estudantes, microempresários e funcionários públicos.
O jornalismo econômico, seja o praticado nos jornais de circulação nacional - como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Globo -, ou nos regionais, simplesmente excluiu os já socialmente excluídos. Raras são as matérias abordando as condições de vida, os sonhos e os atos dos sem-teto, sem-escola, sem-família, sem-saúde, enfim, sem-cidadania. A realidade econômica e social, fruto da má-distribuição da renda, tão visível nas ruas de nossas cidades, parece não ter força para chegar até as páginas dos diários.
É claro que os excluídos não dispõem do mesmo aparato técnico e institucional das empresas e organismos políticos - assessoria de imprensa, fax, e-mail - para inundar as editorias de releases. Talvez nunca tenham colocado o pé dentro de uma redação de jornal. Muito menos conhecem o editor e os repórteres. E não presenteiam com agendas e outras quinquilharias no Natal e no Ano Novo. A capacidade de disputar com o poder político e econômico as páginas de Economia, dentro da estratégia de lobby que cerca as redações, é muito pequena, para não dizer nenhuma.

Produtos, balanços e investimentos

A temática, com raras exceções, é praticamente uniforme: lançamentos de produtos, balanços setoriais e investimentos - A nova cerveja da Antárctica; as vendas do setor de material de construção no semestre; o comércio menor de produtos importados; a proposta de compra da Acesita feita pela Usiminas; os consórcios formados para a compra do terminal de contêineres do Porto de Santos; lançamento de US$ 500 milhões em bônus por parte da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); o investimento de US$ 300 milhões da Ford em Taubaté (SP).
Depois de décadas de economia fechada, a globalização chega ao país de forma avassaladora, envolvendo a todos. A velocidade das mudanças atropela a reflexão. Os editores, que definem os temas que serão abordados pela reportagem no dia-a-dia do trabalho jornalístico e apontam o enfoque a ser dado a cada assunto, foram, ao que parece, "engolidos" por este fenômeno. A abertura e a competição do mercado, a modernidade, se transformaram, da noite para o dia, nos principais dogmas da economia e os valores anteriores, em fósseis jurássicos.
Os reflexos destas mudanças na sociedade, entre eles a quebradeira de empresas nacionais, principalmente as de pequeno e médio porte, e o desemprego, não estão na pauta do dia - a globalização concentra mercados nas mãos de poucas multinacionais e reduz o número de postos de trabalho, por conta da introdução de novas tecnologias e pelo maior grau de automação. O senso crítico está, em boa parte, sendo anestesiado pelo glamour de um mundo funcionando como uma só aldeia.
A busca de informações privilegiadas - a necessidade egocêntrica de "furar" o concorrente - sobre novos investimentos, principalmente no setor industrial e financeiro, transformou-se numa verdadeira obsessão. A globalização econômica contribuiu para acirrar a disputa por estas informações, na medida em que inseriu o país na rota dos capitais internacionais. A cobertura sobre os projetos, em especial os das montadoras de veículos, virou uma grande festa. A cada dia as páginas mostram, com ar triunfante, uma nova fábrica de carros aportando no país.
A competição comercial entre os veículos induziu as Redações a uma verdadeira corrida pelo "furo" de um novo investimento. E dentro desta corrida, a ética muitas vezes acaba atropelada. A informação verdadeira, medida, checada, nem sempre predomina.
Linhas e linhas de texto, apoiados em fontes incógnitas - offs e mais offs - inundam as páginas econômicas, abrindo espaços para a leviandade. Como provam, no dia seguinte, as notas oficiais de desmentido.
E no meio disso tudo, o que pensam os Josés e as Marias deste país, que constituem 80% da população economicamente ativa e sobrevivem com renda - formal e informal - de no máximo três salários mínimos (R$ 360,00)? Entre eles o metalúrgico desempregado que sustenta a família com a venda de sanduíches em porta de fábricas.
O que pensa o poeta José Gilberto Gaspar, do bairro paulistano da Casa Verde, cuja ótica - apresentada aos participantes do Master em Jornalismo para Editores - é a da simplicidade da vida, da cordialidade e da solidariedade entre os homens? Mercosul, evolução do PIB, desempenho da balança comercial, oscilação nas bolsas de valores, Nafta, os novos veículos importados são temas de real interesse para esta que é a maior parcela da população?
O Todo e a Parte
A abertura para o todo, conceito defendido pelo filósofo Josef Pieper, em seu ensaio sobre o papel da universidade - onde lembra que o espírito de uma instituição desta natureza deve ser o de reunir todos os valores, tudo o que cerca o homem, e não seccionar a realidade -, serve como uma luva para o jornalismo econômico, dentro do que deveria ser o seu verdadeiro papel: espelhar a realidade, para que a sociedade, vendo a si mesma, busque as mudanças que se fazem necessárias para promover o bem estar de toda a população.
"Ao homem não é necessário apenas ampliar o seu saber acerca do mundo, mas talvez seja mais necessário ainda lembrar-se das verdades imutáveis e ser lembrado dela. E fazer isto de espírito inteiramente vigilante, sem fugir romanticamente da realidade, nada esquecendo ou desprezando do que, criticamente, sabemos sobre nós próprios e sobre o mundo", destaca Pieper no ensaio.
O filósofo alemão Karl Marx, no século passado, fez uma radiografia da nova organização social emergente da chamada reforma industrial, que permanece bem atual. Em sua obra, Marx mostra que esta nova organização, o capitalismo, tem como base a divisão da sociedade em classes de interesses conflitantes: a dos donos dos meios de produção (capital) e a dos que possuem apenas a força de trabalho (operários). O objetivo da primeira é agregar valor ao capital, através de ganhos sobre a produção do trabalho. A segunda participa do processo econômico como a força reprodutora deste mesmo capital, recebendo em troca uma parcela - bem pequena - da riqueza gerada.
A obra de Marx teve ampla repercussão e em cima dela foram estabelecidas as bases para uma nova sociedade, sem divisão de classes, baseada no socialismo. A queda do "Muro de Berlim" pôs a pique as primeiras experiências na formação da nova sociedade esboçada por Marx. Errado, porém, é jogar na lata de lixo da história a sua obra, principalmente a que desnuda o capitalismo, que vigora agora como a organização sócio-econômica vitoriosa da guerra fria. Esta radiografia está longe de ser "jurássica", tamanha é a sua atualidade. é claro que o capitalismo evoluiu e atualmente opera de forma muito mais complexa que na época dos estudos de Marx. Mas o embrião da realidade - e que marca a atividade econômica no Brasil, como no restante do mundo - permanece: a divisão social.
As relações entre estas duas classes básicas e os conflitos que as permeiam são na verdade o todo, na esfera econômica, lembrado por Pieper, no ensaio sobre a abertura da universidade. A partir do momento em que o jornalismo econômico ignora esta realidade, passa a encobrir os verdadeiros valores que impulsionam a economia e que explicam em boa parte as bonanças e mazelas deste país. E o desvia de seu papel de mostrar a realidade - e não uma imagem parcial dela - para que os agentes sociais possam, dentro do jogo democrático, promover as reformas necessárias ao bem estar coletivo.
A concentração de notícias empresariais no noticiário econômico dos jornais brasileiros, entretanto, afasta o jornalismo econômico do papel de promotor do bem estar social. A limitação dos temas desestimula o debate social, na medida em que a realidade é omitida. Deixa neste caso de atuar como um agente que vem lembrar à sociedade os valores esquecidos. Algo parecido com o que fazem as artes, a filosofia e a linguagem no contexto da humanização do homem, dentro do conceito da antropologia filosófica, que qualifica o homem como um "ser que esquece".
O que poderia justificar esta limitação do noticiário econômico? Falta de criatividade da pauta? Sedução do poder político e econômico? Sedução da chamada modernidade, que passou a considerar valores passados como "jurássicos" - estatismo, distribuição de renda, luta de classes etc.? O momento é de reflexão, principalmente quando nos aproximamos de uma nova eleição presidencial (evento raro nas últimas três décadas), o que abre a perspectiva de o país avançar em suas pendências sociais.
A humanização da pauta das editorias de Economia é uma via importante para recuperar a humanização das páginas econômicas dos jornais. é colocando os personagens reais deste país - a sua população - no centro do noticiário, que os Josés e as Marias ganharão corpo e voz. Ou seja voltarão a ser pessoas, com dramas, sonhos e ações, os mesmos dos leitores. Sem esta humanização da pauta, prevalecendo apenas a realidade sob a ótica do poder econômico e político, ou seja, o posicionamento preferencial junto a empresários e dirigentes políticos, cada vez menos serão os seus leitores. E num momento em que o índice de venda de jornais mostra sinais de queda, não é uma boa estratégia para os veículos distanciarem-se de seu verdadeiro público.

segunda-feira, março 06, 2006

Texto para ser lido!!!!

Caríssimos,

este texto aqui, de Silvia Garcia Nogueira, precisa ser lido.

A data em que essa leitura será cobrada ainda não foi definida, mas sugiro que o façam e, individualmente, produzam anotações sobre o material.

Abrs