quinta-feira, fevereiro 16, 2006

Grupos - Pautas


Abaixo, a relação dos grupos das duas salas para o trabalho com as pautas.

Turma M1

Leandro/Rafael - Aécio

Mari/Simone - Sexo

Cida/Rose/Alex Campinas - Museu

Vander/Pedro H. - Rivalidade

Cristiano/Frederico - Contracultura

Sem grupo: Alexandre Coelho

Turma M2

Érica/Sirlene - Casa

Aline/Rachel/Mariana - Lixo

Jonatas/Alexandre - Menor

Ana Rita/Rúbia

Sem grupo: Juliana

Com as pautas prontas, vamos trocar o material produzido entre os grupos.

Cada um irá identificar virtudes e problemas nas pautas dos colegas.

Para isso, devem ser levados em consideração alguns aspectos, como:


- Tratamento do tema (enfoque e angulação);

- Precisão de informações preliminares;

- Indicação de fontes adequadas.

Outra tarefa de cada grupo é tentar elaborar um lead fictício para a pauta dos colegas.


Bom trabalho.


quinta-feira, fevereiro 09, 2006

A Pauta

Prof. MS Pedro Celso Campos


1. ROTEIRO

No jargão jornalístico, em definição do Aurélio, "pauta é o roteiro dos fatos que devem ser dados pela chefia de reportagem apresentando um resumo do assunto e a indicação ou sugestão sobre como deve o tema ser tratado".
O encarregado da pauta é a pessoa que chega mais cedo à redação. Precisa ler todos os jornais do dia com rapidez e, ao mesmo tempo, com "olho de lince" para descobrir indicações de pauta até num anúncio classificado ou numa nota social, num edital etc.
Também precisa contar com o apoio dos repórteres de rua e dos setoristas, além de contar com uma bem organizada agenda telefônica, de modo que as indicações de pauta não sejam genéricas, mas que tenham dados específicos, citando corretamente nomes de pessoas, lugares onde podem ser encontradas e, se possível, adiantando para o repórter um mini-perfil do cidadão. A pauta também informa sobre eventos rotineiros ou não previstos para o dia, citando locais e horários.
Armar a pauta é uma tarefa trabalhosa porque trata-se também de indicar a equipe mais adequada a cada cobertura. Não é raro que surjam conflitos entre repórteres e pauteiros, especialmente quando a pauta "fura" e o repórter volta sem produção.

2. TIPOS DE CAPTAÇÃO

A edição de cada dia é abastecida com três tipos de captação de notícias:
a) Primária ( através do trabalho dos repórteres na rua,
nos setores ou em telefonemas às suas fontes)
b) Secundária ( Internet, agências, releases etc)
c) Terciária ( informações de articulistas, colaboradores, leitores e pesquisas do próprio pauteiro em jornais, revistas, rádio-escuta etc)

Na captação primária é mais forte a influência da pauta, embora o pauteiro possa orientar linhas de textos enviados por agências, colunistas, colaboradores etc. Mas é através dos repórteres que a pauta acaba "angulando" a investigação, antecipando o tom da edição seguinte.

3. QUENTE OU FRIA

A pauta sobre os eventos do dia é chamada "pauta quente". Mas enquanto os repórteres estão na rua e nos setores ( ministérios, autarquias, palácio do governo, casas legislativas, Detran etc ) a Editoria de Produção está providenciando artigos, reportagens, cadernos especiais etc em comemoração a datas festivas do calendário. Esta é a "pauta fria". O objetivo é jamais deixar o jornal desabastecido de boas matérias, mesmo em épocas de poucas notícias como durante o recesso parlamentar, por exemplo.
Com seu modo especial de observar o que se esconde atrás da notícia, o pauteiro consegue extrair "leite de pedra". Mesmo quando seu jornal leva furo, ele consegue partir para novas abordagens que o concorrente não percebeu. Há mil maneiras de noticiar o mesmo fato. No seu próprio jornal, lendo as matérias do dia, ele consegue providenciar novas investigações que vão gerar matérias do tipo "suite". Ele também programa "suites" para coberturas continuadas como uma enchente, uma votação importante, afinal, tudo que exige cobertura continuada, mantendo o assunto em evidência.
O redator do Manual de Relaciones Públicas ( Madrid, Ediciones Martinez Roca S.A. ) Philip Lesly dá os seguintes conselhos ao pauteiro:

a) mantenha-se a par de todos os acontecimentos do dia
b) leia todos os jornais e revistas concorrentes e ouça o maior número possível de programas noticiosos de rádio e de televisão, sem desligar-se da Internet
c) proponha entrevistas com personalidades
d) idealize matérias sobre assuntos controvertidos, ouvindo várias pessoas que tenham opiniões divergentes
e) mande seus repórteres a todas as conferências, simpósios e congressos, pedindo-lhes que anotem não só o que ouvirem, mas que façam entrevistas sobre temas correlatos ou paralelos
f) publique histórias sobre as cidades e entidades que aniversariam
g) divulgue notícias sobre estâncias, roteiros de viagens, excursões etc
h) coloque seus repórteres permanentemente em viagem para ouvir pessoas de várias regiões sobre determinado assunto para captar a "cor local"
i) destaque as pessoas que se dedicam à filantropia ( mas denuncie a "pilantropia")
j) critique construtivamente os poderes públicos
l) leia as cartas dos leitores
m) repercuta assuntos nacionais e internacionais ( aumento do petróleo, escassez de alimentos, epidemias etc )
n) promova debates sobre temas que interessam aos leitores, convidando técnicos para falarem em auditórios com a presença de estudantes, inclusive debates eleitorais
o) prepare pautas criativas para o Dia das Mães, Dia dos Pais, Dia dos Namorados, Dia da Criança, Corpus Christi, Natal, Páscoa, Dia da Cidade, Semana da Pátria etc
p) mantenha estatísticas, dados históricos e imagens sobre os mais variados assuntos que possam vir a interessar ao jornal

O pauteiro deve "cercar" o assunto para adiantar a matéria. A partida iminente de uma nave a Marte deve provocar amplo material de pesquisa para referendar a notícia. A anunciada chegada de um furacão rende muitas matérias antes que ele chegue: entrevistas com autoridades e moradores sobre os preparativos, opiniões de meteorologistas e especialistas etc. O GP de Fórmula 1 é notícia muito antes de acontecer.
Nas páginas 188, 189 e 190 de seu livro já citado, Mário Erbolato imagina a movimentação da redação no caso de um acidente aéreo. Nessas horas o pauteiro, chefe de reportagem, editor-chefe e quem mais estiver no comando da redação precisa ter a agilidade, a firmeza e, ao mesmo tempo, o equilíbrio de um comandante em plena batalha, ordenando e dirigindo toda a estratégia de cobertura, deslocando repórteres de outras áreas, cancelando pautas anteriores, pedindo free-lancers ao Departamento de Pessoal, providenciando recursos materiais e deslocamentos, acionando o Departamento de Arte e iniciando o fornecimento do material de pesquisa que vai orientar e apoiar a cobertura de rua ( como ocorreu na cobertura do incêndio do Ed. Joelma, em S. Paulo, por exemplo; na queda do Avião da TAM; na tragédia dos Mamonas Assassinos; na morte de Tancredo Neves etc ).
Erbolato imagina a emergência de um Boeing da Empresa XYZ, procedente de Nova York, que cai em Paulínia, a 18Km do Aeroporto de Viracopos, em Campinas, onde deveria pousar, causando, na queda, a destruição de casas e instalações. O professor imagina, então, a seguinte armação da pauta:

I.Reportagem Local
1. Envio de repórteres e fotógrafos a Paulínia para:
a) Descrever a situação e ouvir depoimentos de pessoas que tenham visto a queda do avião.
b) Entrevistar o delegado de polícia e os responsáveis pela indústria tal sobre os prejuízos e possível tempo de paralisação de suas atividades.

2. Viracopos:
a) Saber a conversação mantida entre a torre de controle e o comandante do Boeing.
b) Obter informes, no balcão da Empresa X Y Z, sobre a relação de passageiros e escalas do avião. ( A reportagem é informada que, a bordo, se encontrava Mr. Charles, alto funcionário do departamento de Estado Norte Americano, e o quadro titular do Clube Canindé de São Paulo).
c) Pedir a X Y Z nota oficial sobre o acidente ( que poderia também ser expedida pelos escritórios da Companhia no Rio, São Paulo ou Brasília).
d)Entrevistas com as famílias de Campinas que tinham parentes no avião. Ouvir também as autoridades policiais.

II. Correspondentes, Sucursais e Agências de Notícia
1. Pedir informações sobre como foram as decolagens e pousos do avião, no mesmo vôo, em Nova Iorque, Miami, Caracas, Brasília e Rio de Janeiro (Galeão).

2. Conseguir da Companhia X Y Z, na sua sede (Rio de Janeiro), biografias do pessoal de bordo e ouvir os familiares de todos eles, além dos colegas que haviam sido seus companheiros de viagens anteriormente.

3. Entrevistar no Rio e Brasília (se possível também em Caracas e Miami) pessoas que viajaram no avião e desembarcaram nessas cidades, para que descrevam o ambiente a bordo e contem algo a respeito da viagem.

4. Ouvir, nos EUA, diretores da firma fabricante do Boeing.

5. Obter a opinião de diretores da Federação Paulista de Futebol, do Clube Canindé, de outras agremiações e de jogadores e torcedores, a respeito dos atletas que morreram no desastre.

6.Repercussão da morte de Mr. Charles, ouvindo o Ministro das Relações Exteriores do Brasil, Presidentes e Reis dos países por ele visitados, quando em missão de paz.

III. Ao arquivo seriam solicitadas as pastas seguintes:
1. Mister Charles - Dados biográficos, trabalho que desenvolveu, declarações recentes e notas do Ministério das Relações Exteriores do Brasil e de chancelarias de outros países, quando anunciaram a sua visita à América do Sul.

2. Clube Canindé - Objetivos de sua visita ao exterior. Relação dos países visitados. Jogos dos quais participou durante essa última viagem (vitórias, derrotas e empates). Possíveis incidentes e relação das taças conquistadas.

3. Jogadores - Biografia de cada um e declarações recentes deles.

4. Desastres Aéreos - Quantos acidentes com a Companhia X Y Z? Relembrar o último ocorrido ( antes do atual). Acidentes aéreos no Brasil e no mundo nos últimos 6 meses ou ano.

5. Paulínia - Histórico da cidade, posição geográfica, população, renda, desenvolvimento. Breve relato das principais indústrias. Lutas políticas. Obras públicas etc.

6. Empresa Tal - Descrição de suas instalações. Síntese do último relatório divulgado que mencione área de construção, produção , número de empregados, planos. Outras fábricas da mesma organização existentes no país e com as quais havia intercâmbio.

7. Pastas diversas - Biografias de pessoas proeminentes de Campinas ou cidades vizinhas que morreram no acidente.

8. Viracopos - Instalações, histórico, movimento estatístico, obras em execução, companhias que operam no aeroporto etc.


As reuniões em que as pautas são discutidas, revistas e distribuídas nem sempre são conduzidas com a seriedade necessária. A pauta mal explicada pode resultar em matérias desastradas, como um comandante que programa erradamente o computador de bordo, antes da decolagem, e acaba aterrissando no meio da floresta, como, de fato aconteceu tempos atrás porque o piloto estava distraído com a copa do mundo.
Cremilda Medina (" Notícia - Um Produto à Venda ". São Paulo: Summus, l988) tem uma visão muito crítica sobre as reuniões de pauta. A opinião dela é citada por Edvaldo Pereira Lima na pág. 60 do livro " Páginas Ampliadas " ( Campinas: Unicamp, l995 ):
" Nas rotinas de redação, momentos decisivos como as reuniões de pauta pecam por falta de domínio técnico-profissional. A opção de assuntos e a forma como tratá-los raramente é levada no grau de seriedade e aprofundamento que a situação exige. Assim, por exemplo, à falta de imaginação (criação), uma das fontes mais comuns de pauta é a seleção de assuntos já publicados em outros veículos. Uns jornais se pautam pelos outros num círculo vicioso fechado e pobre. A criação de pauta não é ficção - inventar uma meta- realidade, contar histórias literárias sobre a vida, mas é, sem dúvida, a descoberta de ângulos, a busca de problemas imanentes ou subjacentes dessa mesma realidade. E nesse sentido os pauteiros e editores que se reúnem para programar seu dia de amanhã e o de hoje precisam de preparo técnico ( conjunto de repertório cultural, aprendizado jornalístico e maturidade para assumir mudanças das rotinas ) para desenvolver essas pautas, sugerir reportagens, relacionar temas, prever edições especiais. Porém raras vezes nos defrontamos com reportagens que articulem e aprofundem um determinado problema social o que reflete uma deficiência do jornalismo brasileiro. É que não passamos de um jornalismo noticioso precário para um jornalismo interpretativo mais maduro, em grande parte por deficiência profissional dos que conduzem o processo, por ausência dos criadores aptos a aproveitar o espaço de um jornal em todas as suas possibilidades, a exercer uma dinâmica atuação que transforme uma notícia passageira em documento de realidade ".

4. PLANEJAMENTO E ANGULAÇÃO

A criação americana da pauta surgiu no Brasil com a reforma editorial dos jornais Última Hora ( Samuel Wainer ) e Diário Carioca ( Danton Jobim e Pompeu de Souza ), na década de 1950. Nessa época também surgiram as novas técnicas de escrever para jornal, o lead, os manuais de redação e o planejamento centralizado da edição através da instituição da pauta, de modo que as matérias são programadas não apenas quanto aos fatos a serem apurados, mas, principalmente, quanto à linha de orientação do texto (Lage 2001).
A pauta se generalizou por toda a imprensa brasileira com a industrialização plena do setor na década de 1970. Mas não basta existir uma boa pauta para que se tenha um bom jornal. A este respeito observa Nilson Lage: “O êxito de uma pauta depende essencialmente de quem a executa. O trabalho de reportagem não é apenas o de seguir um roteiro de apuração e apresentar um texto correto. Como qualquer projeto de pesquisa, envolve imaginação, insigth: a partir dos dados e indicações contidos na pauta, a busca do ângulo ( às vezes apenas sugerido ou nem isso ) que permita revelar uma realidade, a descoberta de aspectos das coisas que poderiam passar despercebidas”.
Sobre a função de planejamento da pauta, afirma o professor Lage: “O planejamento da edição – primeiro objetivo da pauta – garante interpretação menos imediata, emocional ou intempestiva dos eventos; diminui a pulverização de esforços em atividades improdutivas; permite a gestão adequada dos meios e custos a serem utilizados numa reportagem ( seja para meios impressos, televisão, rádio ou Internet )”.
Pode-se observar, claramente, que a pauta tem a ver com o moderno jornalismo empresarial onde não se pode desperdiçar tempo e recursos. Daí que o próprio jornalista precisa aprender a ser uma pessoa organizada porque já vai longe o folclórico tempo do jornalismo boêmio que se comprazia apenas no beletrismo de escrever bonito. Hoje o mercado se profissionalizou, tornou-se complexo, a concorrência é acirrada, o leitor é exigente, os editores e secretários de redação cobram qualidade e o Departamento de Recursos Humanos não pensa duas vezes quando recebe ordens de “enxugar a folha”. Não se trata de fazer terrorismo, mas de alertar os jovens profissionais para a seriedade da profissão.
Como já foi dito, a pauta também tem o seu componente ideológico, assegurando a conformidade da matéria jornalística com os interesses empresariais ou políticos. É aqui que se estabelece o perigoso terreno da consciência. Até onde o jornalista deve acatar a pauta do jeito que ela lhe é passada? O que ele pode fazer para preservar sua consciência diante de uma pauta claramente viciada e tendenciosa? Afinal, sabemos que existe liberdade de empresa, muito mais que liberdade de imprensa. Como fazer para manter o emprego e a dignidade ao mesmo tempo? São perguntas difíceis para temas tão polêmicos. Talvez o único caminho que resta ao repórter seja conquistar o respeito do pauteiro e dos editores através da sua própria seriedade na apuração e no relacionamento com as fontes, de modo a ter postura para discutir “de igual para igual” quando discordar da pauta. Ser bem informado é moeda forte dentro de qualquer redação. Informação ( isto é, boas fontes ) vale respeito.(Leia o artigo “Diga não ao pauteiro”, em a respeito da cobertura da imprensa sobre o atentado de 11 de set.2001 nos EUA).