domingo, dezembro 03, 2006

Prova AV3 - Segunda-feira (11/12) - MANHÃ / SEG. HORÁRIO

Prezados alunos de Impresso I,

eis a matéria a ser estudada para a nossa AV3:

1) Capítulo "A arte de apurar", do livro "A arte de fazer um jornal diário", de Ricardo Noblat.

2) Este texto aqui, de Silvia Garcia Nogueira, sobre reuniões de pauta nas redações.

3) Textos sobre editorias específicas:

Editoria de Economia

Editoria de Política

Editoria de Geral

Editoria de Cultura

Editoria de Ciência

Editoria de Polícia

Editoria de Esportes

4) Reflexões feitas em sala a partir do filme "O Jornal".

Obs: A prova terá, além de questões referenciadas nos textos acima, uma parte prática, de redação e edição de um texto jornalístico.

Abraços a todos, bons estudos e boa prova.

Prof. Ms. Evaldo F. Magalhães

segunda-feira, outubro 30, 2006

Aula - 1ª semana de nov. 2006

Este texto aqui, de Silvia Garcia Nogueira, deve ser lido com atenção.

sexta-feira, setembro 15, 2006

Pauta para prova AV1 - Ecolatina


Na próxima semana, Belo Horizonte será a capital internacional do meio ambiente. A partir da segunda-feira, 18/9, a cidade recebe a 6ª Conferência Latino-Americana sobre Meio Ambiente e Responsabilidade Social (Ecolatina-2006), que vai reunir cerca de 5 mil pessoas de 11 países. O evento vai até o dia 21/9, no Minascentro, localizado na região Central da cidade.

A pauta é ampla. Muitas mesas redondas, seminários e palestras vão rolar, durante a semana.


A programação completa e mais informações podem ser obtidas no site oficial do evento.

Na terça-feira (19), quando vocês estiverem lá, peço que recolham informações e entrevistas para produzir matérias sobre os seguintes temas:

- Desenvolvimento do ecoturismo

- Mudanças climáticas

- Projetos de responsabilidade social e desenvolvimento sustentável

Na nossa prova, sexta-feira (22/09), vou pedir um texto relacionado a um desses temas. Vai ser surpresa.

Outra coisa: gente graúda vai estar lá; vão aqui algumas presenças confirmadas:

- Douglas Trent – especialista norte-americano em ecoturismo

- Cledorvino Belini, da Fiat;

- Fábio Colletti, do ABN AMRO/ Real;

- José Armando de Figueiredo Campos, da Arcelor;

- Márcio Utsch, da Alpargatas;

- Roberto Salas, da Amanco;

- Israel Klabin, da Fundação Brasileira para o Desenvolvimento Sustentável;

- Ernesto Heinzelmann, da Embaco;

- Marcos Egydio, da Natura.

É isso.
Boa cobertura a todos

quinta-feira, agosto 24, 2006

Pautas e fontes das diversas editorias

Caros,

os textos linkados abaixo, escritos pelo prof. Hélio Ademar Schuch, da Universidade Federal de Santa Catarina, vão nos ajudar acomprrender como são feitas as pautas em sete editorias, comuns em qualquer jornal impresso.

Schuch ressalta os aspectos mais importantes a serem levados em conta na formulação de roteiros de cobertura para cada uma dessas especializações do jornalismo, como as fontes envolvidas e a forma como os assuntos devem ser abordados.

Lembro que a compreensão desse material será cobrada na prova de AV1.

Eis os textos:

Editoria de Economia

Editoria de Política

Editoria de Geral

Editoria de Cultura

Editoria de Ciência

Editoria de Polícia

Editoria de Esportes


Abraços a todos.


segunda-feira, abril 24, 2006

Apuração e pesquisa - um quase paralelo entre o trabalho do jornalista e do pesquisador social

Prof. MS Pedro Celso Campos

* material didático usado na disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso I, prof. Evaldo Magalhães, FESBH

1. CONCEITOS

Pesquisar, em jornalismo, significa tanto planejar, metodicamente, um levantamento de opiniões, seguindo as normas científicas dos Institutos de Pesquisa, por exemplo, como reunir dados para o cumprimento da pauta diária. Neste último caso, trata-se do trabalho diário de apuração, no qual o repórter deve buscar e conferir informações, comparar opiniões ou fontes divergentes e, obviamente, não se limitar à superficialidade e às generalizações. Se o texto que desejamos produzir é um trabalho mais longo, é útil que todas as informações e observações pertinentes estejam organizadas em um arquivo, como ensina o manual de redação da Folha de São Paulo.

2. FONTE

A pesquisa envolve consultas a algum tipo de fonte: texto, livro, revista, filmes, gravuras, gráficos, discos, depoimentos gravados, a natureza, a sociedade, o homem, uma declaração pública, uma entrevista.
O manual da Folha também ensina que "quando o pesquisador tem fontes distintas, é importante hierarquizá-las, observando o grau de confiabilidade de cada uma delas. As fontes escritas, com tradição de exatidão (enciclopédias renomadas, autores reconhecidos, documentos emitidos por instituições com credibilidade, videoteipes ) são as que devem ser consideradas em primeiro lugar".
Mas não são poucas as dificuldades que o repórter enfrenta para acessar os dados em poder da fonte, tanto no âmbito do poder público, como nas empresas e demais instituições privadas pelos interesses envolvidos e pelo receio de que a divulgação de determinados dados possa causar danos generalizados. Nesses casos, o repórter que conta com fontes confiáveis poderá recorrer ao off. Em todo caso é sempre necessário e imprescindível confirmar a informação com outras fontes.
No caso em que “a fonte A dá uma versão, a fonte B outra e a fonte C uma terceira, contraditórias ou só parcialmente coincidentes, de um evento, deve haver uma quarta versão que corresponda ao que realmente aconteceu. Freqüentemente, essa versão mais completa ou correta está disponível em algum lugar, pode ser investigada e recuperada”, ensina o professor Nilson Lage ( 2.001). Ele reconhece que é difícil interpretar tabelas numéricas onde os dados significativos estão no mesmo nível que outros insignificantes; é cansativo ler balanços que podem esconder revelações surpreendentes; é preciso conhecer a técnica de arquivamento para localizar uma matéria no acervo do jornal, mas ele assegura que “complicada ou não, a pesquisa é a base do melhor jornalismo”. Lembra, por exemplo, que “ela está presente, e muito, na reportagem Os Sertões, de Euclides da Cunha, certamente a principal obra jornalística de literatura em língua portuguesa”.


3. ÉTICA

Apurar incansavelmente é dever ético do jornalista. A mania de "ir na onda", de basear-se apenas no trabalho alheio é que redunda em fracassos vergonhosos para a imprensa como foi o Caso Escola-Base onde a falta de apuração eivou a imprensa de mentiras e calúnias sobre pessoas inocentes. ( Para entender este caso, leia "O Caso Escola Base - Os Abusos da Imprensa". RIBEIRO, Alex. São Paulo: Ática, 1995).
O Código de Ética do Jornalista Brasileiro, em seu artigo 7º, declara que "o compromisso fundamental do jornalista é com a verdade dos fatos, e seu trabalho se pauta pela precisa apuração dos acontecimentos e sua correta divulgação".
A ética na apuração da notícia exige que se ouça, honestamente, isto é, sem distorções ou manipulações, todas as partes. O Manual de Telejornalismo da Central Globo de Telejornais cita um exemplo: "Se o repórter vai cobrir a queixa dos moradores de que uma indústria está poluindo um rio, deve ouvir não só os moradores, mas também os donos da indústria e as autoridades locais".
Do mesmo modo se um jornal de Bauru vai publicar uma notícia sobre os postos que, segundo a Agência Nacional de Petróleo, estão vendendo gasolina adulterada, é justo esperar que o jornal relacione os postos locais citados na lista, comprovando que faz jornalismo para o leitor e não apenas para atender e preservar interesses de grupo. Entretanto, conforme Lage (2001), “a ética, por seu conteúdo instável e complexo, não pode ser integralmente generalizada em mandamentos. Assim, se é reconhecido (não tanto pelas leis, mas pela consciência do ofício) o direito de o jornalista manter sigilo sobre suas fontes, isso se aplica a muitos casos, não a todos, e o discernimento de a quais casos se aplica envolve a consideração específica de razões e conseqüências.
O mesmo se pode dizer da interdição ao uso de gravadores de som ou câmaras ocultos, da alegação de falsa identidade, da revelação de segredos (de Estado, de atividades de agentes de segurança etc), da identificação de vítimas ou acusados de delitos infames, da exposição de práticas violentas (em coberturas de polícia ou matadouros de animais) ou de situações de extrema degradação ou sofrimento (por exemplo, em enfermarias de pacientes terminais)...situações que dão margem a muita retórica e pouca certeza”.

4. PROJETO

O repórter esboça um plano de trabalho prévio à pesquisa, a partir do momento que sabe o que vai investigar, de comum acordo com o editor da área. Nessa fase também fica estabelecido o custo do trabalho a ser coberto pelo jornal. Com o trabalho em andamento ele adaptará as técnicas de pesquisa às circunstâncias para recolher os dados de que necessita.
Essa fase preparatória ocorre também na pesquisa social. O pesquisador seleciona o objeto de estudo, define as técnicas, os recursos e o tempo necessários, além das possíveis fontes de informação.
Isto é o ideal. Infelizmente, porém, a maioria dos repórteres se põe a pesquisar sem um plano prévio, achando que não vale a pena quebrar a cabeça já que as circunstâncias podem alterar totalmente o plano da pesquisa.
Outras vezes o repórter delimita o tema da pesquisa de comum acordo com o jornal. Mas muitas vezes não fica muito claro. Durante o trabalho surgem barreiras, algumas intransponíveis, que impedem resultados satisfatórios. Além disso, devido a uma seleção e delimitação defeituosas, pode ocorrer que o interesse jornalístico da pesquisa não justifique o trabalho.
As técnicas do repórter obedecem mais à intuição do que à reflexão. Porém, o pesquisador social conta com fórmulas práticas e simples que podem ser um instrumento de grande ajuda para o repórter. É questão de adaptá-las ao trabalho jornalístico.

5. COLETA DE DADOS

Esta segunda etapa tem lugar quando o repórter lê sobre o assunto e depois investiga no local dos acontecimentos, do mesmo modo como age o pesquisador social. Também nesta fase o trabalho de muitos repórteres é lamentavelmente falho. São numerosos os
e-mails dos leitores dando conta que certos dados não são verdadeiros. Este, porém, é o preço que se paga quando se rompe o postulado básico de que em toda disciplina exata - como a pesquisa - é indispensável estudar teoricamente o que se vai praticar depois.

6. CLASSIFICAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DOS DADOS

A terceira fase da pesquisa consiste em classificar e ordenar o material recolhido na etapa anterior. Aglutinam-se os dados de acordo com as características comuns. No entanto, cotidianamente lemos reportagens com uma lamentável falta de rigor. Há muitas reportagens nas quais o menos importante e transcendente é o que se escreve.
O pesquisador social, aproveitando o método das ciências naturais, consegue proporcionar a esta etapa uma extraordinária validade reflexiva. Classifica e ordena os dados, fato que lhe permite distinguir o substancial do secundário, o geral do particular, o verdadeiro do falso.

7. CONCLUSÕES

O fim de toda pesquisa social é estabelecer generalizações científicas com o propósito de descobrir a dinâmica dos fenômenos sociais, isto é, as leis que os regem.

8. REDAÇÃO DEFINITIVA

Uma vez que o repórter passe pelas etapas anteriores, está pronto para redigir os resultados de sua pesquisa: a reportagem. Há muitas formas de relatar os acontecimentos e também as aventuras para levantá-los. O estilo e a linguagem devem estar à altura do leitor heterogêneo dos jornais.
Na pesquisa social, ao invés de uma reportagem, o pesquisador produz um relatório técnico, descrevendo minuciosamente os passos da pesquisa até chegar à conclusão que orientará condutas sobre o tema tratado. O estilo varia do acadêmico ao texto ligeiro. Mas, em geral, é um relatório árido, cheio de termos técnicos, apropriado para seu círculo mais restrito de leitores especializados.



9. TÉCNICAS

9.1.Observação sem controle

Também chamada de não-estruturada, a observação sem controle é aquela parte da pesquisa em que o repórter se converte em testemunha de um acontecimento ou situação e toma notas ou retém na memória tudo o que percebe, através de seus sentidos. Como observador, o repórter pode encontrar-se em duas posições:

a) OBSERVADOR NÃO PARTICIPANTE;
b) OBSERVADOR PARTICIPANTE.

Ele é não-participante quando se coloca fora da situação, como mero observador. (Ex. Cobrir uma reunião de moradores sem intervir nela). É participante quando vivencia a situação. (Ex. Cobrir a situação dos sem-terra morando um tempo no acampamento ). Outro exemplo é o trabalho de pesquisa realizado por Gilberto Dimenstein para conhecer de perto a realidade do menor abandonado em São Paulo, morando no meio deles, o que resultou no livro-reportagem "A Guerra dos Meninos"). Sem eliminar a distância social e mental em relação a esse grupo social, o repórter não conseguiria obter todos os dados de que precisava para montar um trabalho realista sobre a questão. É um exemplo claro de "Observador Participante".
Aqui podemos levantar um questionamento sobre a situação dos jornalistas que estão cobrindo a invasão aglo-americana no Iraque. Por terem sido admitidos diretamente no front, ao lado dos soldados, devemos considerá-los participantes. Mas, convenhamos, trata-se de uma participação “de encomenda” onde não se admitem críticas, daí o Pentágono ter retirado do Iraque o repórter da Fox, Geraldo Rivera, por discordar das reportagens dele. Dá-se o mesmo no caso da demissão de Peter Arnett, da NBC, por ter criticado a estratégia militar dos invasores.
Poucos repórteres, de qualquer forma, se dispõem a tais tipos de sacrifícios. Outras vezes é a empresa que não concorda em bancar uma pesquisa mais participativa, tanto que pouquíssimos veículos brasileiros estão com enviados especiais em Bagdad...o da Globo, Marcos Uchoa, está no Kuwait... Os do Oriente Médio estão em Londres...
São muitos os textos feitos à distância, sem que o repórter conheça as pessoas e os lugares que descreve, não por estarem situados no exterior, mas mesmo quando está tratando de bairros da própria cidade onde fica o jornal, ou em regiões próximas. Em 1999, quando um raio caiu sobre as instalações da CESP, em Bauru, jornais de São Paulo noticiaram o fato sem mandar um repórter a Bauru para fotografar o local e conversar com testemunhas, preferindo escrever à distância sobre um fato de tal gravidade que apagou vários estados do país. Outras vezes as anotações do repórter, durante a pesquisa, são apressadas, incompletas, erradas, mal feitas, resultando em trabalho final cheio de falhas e distorções. Mais grave ainda é a “docilidade” com que a imprensa ocidental transcreve, por exemplo, todas as informações das poucas agências de notícia que cobrem esta parte do planeta, o que resulta em muito mais desinformação que informação, conforme denuncia o ex-correspondente de guerra Leão Serva (2001) ao analisar a parcialidade da imprensa na cobertura da Guerra do Kosovo, na Iugoslávia.


9.2. Pesquisa Documental

Esta técnica é muito necessária para arredondar, aprofundar e fortalecer uma reportagem. É útil ler tudo que se possa sobre o tema. Já foi dito neste curso que uma grande manchete pode estar escondida atrás dos números maquiados de um orçamento, um balanço. O hábito de estudar documentos e de citar livros consultados, nas reportagens, data do Novo Jornalismo, do texto interpretativo. Antigamente só se consultavam fontes vivas, como se os documentos não tivessem importância. Por isto é importante que o estudante de jornalismo aprenda a fazer resenhas de livros, montar fichários de leitura, organizar arquivo documental, citar corretamente as obras consultadas, consultar acervos de bibliotecas, procurar livros de sua área de interesse na Internet etc. Infelizmente muitos estudantes acham trabalhoso até mesmo organizar com método as referências elementares dos próprios trabalhos escolares...

9.3. Entrevista

Há muitos tipos de entrevista, para os mais variados fins. De alguma forma o interrogatório civilizado que o Delegado faz do detento é uma entrevista. Também leva este nome o questionário ao vivo que um candidato a emprego responde no Departamento de Recursos Humanos da empresa onde deseja trabalhar. É entrevista que o médico usa para sondar a saúde do paciente. É com entrevista - isto é, com perguntas e respostas - que o cientista social se documenta no campo para montar o relatório de sua pesquisa. No jornalismo a diferença é que o resultado dessas perguntas e respostas destina-se à publicação. Isto é, o entrevistador é um intermediário entre o leitor e o entrevistado. Colocando-se no lugar do leitor, o repórter deverá ter sensibilidade para imaginar o que o leitor espera que ele pergunte. Muitas vezes tem que pensar rápido na condução da entrevista, sem aquela tranqüilidade de que desfruta o médico, o cientista e até o delegado. Além do mais, o resultado do seu trabalho destina-se a um público heterogêneo.

9.4. Mapas

Os repórteres metódicos costumam fazer um mapa do terreno a ser investigado, localizando nele as principais instituições. Outros providenciam uma foto do entrevistado, quando não o conhecem previamente. Porém há também o caso de repórteres que saem para a apuração sem saberem direito o endereço do entrevistado ou a hora da entrevista, fazendo a equipe perder tempo, causando irritação, mostrando leviandade e incompetência para trabalho de equipe e, portanto, para o jornalismo. O recomendável é estudar bem a pauta e certificar-se dos endereços e horários antes de sair. Ser metódico é ser competente porque ninguém tem tempo para perder.



9.5. Formulários

Os formulários de entrevista, com perguntas previamente elaboradas, em forma de questionário, para serem respondidas por várias pessoas, tipo enquete, também são instrumentos válidos de pesquisa, de acordo com a situação.

9.6. Amostragem

Muito usada na pesquisa social, a Amostragem consiste em observar e interrogar a parte mais representativa de um grupo ou comunidade. É uma técnica que permite ao pesquisador obter dados válidos sobre todo o conjunto, uma vez que a parte selecionada reúne uma série de características globais. Hoje os jornais contam com seus próprios institutos de pesquisa para realizar sondagens de opinião a respeito dos mais diferentes assuntos, desde a popularidade do Presidente da República à opinião da sociedade sobre o desempenho da polícia. Grandes jornais também contam com a técnica de amostragem para saberem o que o leitor achou da edição do dia, o que contribui para fomentar a pauta do dia seguinte. Em Brasília, por exemplo, o Correio Braziliense entrevista diariamente, pela manhã, 200 leitores previamente selecionados, com este objetivo.

9.7. Estatísticas

Na pesquisa social existe a preocupação em quantificar os dados obtidos principalmente com as entrevistas e amostragens. As estatísticas devem ser usadas com muito rigor e cuidado para não falsear resultados. Atualmente muitos repórteres já sentem necessidade de conhecer esta técnica. Se não precisamente para tabular dados, ao menos para ler e interpretar os dados que os próprios pesquisadores e entrevistados proporcionam em forma de quadros estatísticos. Conhecimentos elementares de estatística permitem obter, por exemplo, a porcentagem de cidadãos que possuem automóvel; a relação entre o incremento de forças policiais e a redução de roubos durante determinado mês em região delimitada etc.

10. TEMÁTICA

São ilimitados os temas que comportam pesquisa para subsidiar boas reportagens: todos os aspectos das relações humanas, como as instituições (família, imprensa, igreja, escola, tribunais, legislatura); os períodos eleitorais; a avaliação dos governos; a cooperação e o conflito entre os grupos; os problemas da população ou de uma determinada comunidade, como a universitária, por exemplo; as condutas anti-sociais; os avanços da ciência e da tecnologia; o uso de computadores nas mais diferentes atividades; a penetração do computador nas camadas sociais de menor poder aquisitivo (inclusão digital) etc. O tema da pesquisa deve ser interessante para os leitores, atual e relevante. O polêmico, o inusitado, o desconhecido dão bons temas. Eles podem ser estudados nas ruas, em casa, na TV, nos jornais, em conversas, em filmes, no supermercado, nos shoppings, nas feiras-livres, na própria vida cotidiana.
Para encontrar bons temas, o repórter deve desenvolver seu poder de observação da conduta humana e sua capacidade de prever o rumo dos acontecimentos, mantendo-se bem informado.

11. SELECIONANDO UM TEMA

As idéias desenvolvidas sobre o tema não devem ser simplistas ou superficiais. É preciso considerar os aspectos essenciais e transcendentais do tema. Eles dão solidez à reportagem.
Ao selecionar um tema é bom submetê-lo às seguintes indagações:
- É um tema atual? (morte de uma figura pública)
- É de interesse permanente? (basta trazê-lo à tona para atrair leitores)
- É de interesse social? (o ser humano como protagonista é de interesse de toda a sociedade)
- Pode contribuir para a solução de um problema? (informar,denunciar)
- Traz algum benefício para os leitores? (todos querem melhorar suas condições de existência: obras públicas, facilidades, serviços novos, solução de antigos problemas, devolução de impostos, aumento do salário mínimo)
- A quem se dirige a reportagem? (há um leitor médio, hipotético para os jornais de grande circulação. As publicações especializadas têm leitores motivados e que dominam terminologias técnicas)
- O que já se escreveu sobre o tema? (um assunto que já foi tratado muitas vezes demanda um ângulo novo, inusitado; a repetição não é bem recebida. Uma pesquisa nos arquivos de jornais permite saber o que tem sido publicado sobre o tema).

12. PLANEJAMENTO

Escolhido o tema, é preciso fazer um esquema da pesquisa jornalística. O esquema evita perda de tempo, de esforço e de dinheiro. Por exemplo, numa reportagem sobre uma zona determinada, pode-se adotar um esquema como este:

12.1. Relações Econômicas
a) ocupações predominantes dos habitantes (agricultores, operários, desempregados etc)
b) distribuição de ingressos. Determinar qual é a remuneração média dos setores economicamente ativos
c) instrumentos de trabalho e formas de emprego dos vários setores
d) formas de propriedade das empresas ou das terras.

12.2. Relações Sociais
a) tipos de família
b) números de membros
c) associações profissionais
d) classes sociais nas quais a população se distribui


12.3. Relações Culturais
a) grau de escolaridade dos vários grupos sociais
b) identificar número de escolas e graus
c) especificar atividades de lazer, infra-estrutura de lazer etc

12.4. Relações Religiosas
a) grau de religiosidade da população
b) influência da igreja local entre os habitantes
c) festas religiosas da região

12.5. Relações Políticas
a) formas de organização da população
b) formas de governo - governantes
c) líderes das várias instâncias: sindicais, políticos, religiosos, artistas etc

12.6. Fazer previsão
a) lugares a serem visitados e pessoas a serem ouvidas
b) custo
c) tempo necessário para elaborar a reportagem

12.7. Selecionar técnicas
a) pesquisa documental, bibliográfica, entrevistas, questionários, estatísticas, amostragem, mapas, gráficos

12.8. Material indispensável
a) providenciar e testar tudo que possa ser necessário como câmera fotográfica ou digital, gravador, fitas, pilhas, caderno de notas, caneta etc.

13. OBJETIVO FINAL

A reportagem baseada em pesquisa não é um fim em si mesma. Ela tem um objetivo maior. Os repórteres preocupam-se em dar uma contribuição para a melhoria das condições de vida da população, indicando problemas, informando, denunciando e, muitas vezes, contribuindo com soluções

quinta-feira, março 16, 2006

Aula 16/03

Caros,
vamos ler com atenção a seguinte entrevista e transformá-la em uma matéria de texto corrido com 30/40 linhas. A idéia é que vocês elejam as principais falas do entrevistado e as distribuam em forma de declaração aspada, diluindo-as também no próprio discurso indireto da notícia.
Um dos ganchos, reparem, é o livro que o entrevistado acaba de lançar.
Vamos aos dados e à entrevista:
Entrevistado:
consultor Ricardo Neves, que acaba de lançar o livro Pegando no Tranco, pela editora Senac-Rio (200 pg, R$ 29).
Experiência:
gestão de projetos para as Nações Unidas, Banco Mundial e Banco Interamericano

Cargo atual:
Diretor da empresa de consultoria empresarial itC
Vida pessoal:
tem 49 anos, mora no Rio e é casado. Graduado em Engenharia pela PUC-RJ, tem mestrado pela UFRJ

Pergunta- O Brasil não é pobre?
Ricardo Neves - Essa é uma forma obsoleta de perceber o Brasil. A base usada para medir a pobreza é o orçamento familiar. Os pesquisadores perguntam a um representante de cada domicílio qual é a renda média mensal. Como mais da metade dos trabalhadores está no mercado informal, é difícil que esse dado corresponda à realidade. Uma diarista na zona sul do Rio de Janeiro, por exemplo, cobra de R$ 60 a R$ 70. Se fizer quatro faxinas por semana, ganhará cerca de R$ 1.000 por mês. Nas pesquisas de governo, como o Censo, o Pnad e a Pesquisa de Orçamento Familiar, aparece como desempregada.

P- Como se pode medir a pobreza do Brasil?
Neves - Da mesma maneira que as pesquisas de mercado fazem. Os institutos contratados acham que o indicador renda não é confiável. Eles preferem medir a penetração de serviços e de bens de consumo e analisar o estilo de vida. Quando o pesquisador bate em sua porta, não pergunta quanto você ganha. Ele pergunta coisas que você não tem problema em responder. Por exemplo: você tem carro? Televisão? DVD? Qual seu nível de escolaridade? Essas perguntas permitem ao setor privado saber qual é a disponibilidade do domicílio para comprar bens e produtos. Os institutos percebem que as contas não fecham. Nas favelas do Rio, 14% dos domicílios têm carro, 22% têm microondas e 48% têm lavadora de roupas.

P - Mas o endereço continua na favela.
Neves - Uma coisa é pobreza, outra é baixa renda. No Rio, existe 1,8 milhão de domicílios. Desses, 300 mil estão em favelas. Percebemos que esses domicílios não representam mais a pobreza. Na nossa visão de classe média, olhamos para aquela alvenaria, o tijolo à mostra, e identificamos um sinal de pobreza. Não é assim. A primeira prioridade da pessoa de baixa renda é aumentar a metragem quadrada. Ela é de uma primeira geração que veio do Nordeste, passou a receber parentes, seu filho casou. A segunda prioridade é equipar a casa com eletrodomésticos.

P - A pobreza então é mais aparente que real?
Neves - O que vemos na rua altera nossa percepção. A revista Time publicou que o Brasil tinha 15 milhões de meninos morando na rua. Em 1997, o sociólogo Betinho criou uma metodologia para contar os menores abandonados. Ele percebeu que era preciso separar menino que está na rua de menino que vive na rua. Também viu que eles ficam juntos e próximos a locais onde se abastecem de comida. Ele aplicou esse método no Rio e chegou à conclusão de que havia menos de mil meninos de rua. Outras prefeituras fizeram o mesmo e chegou-se à conclusão de que não havia mais de 20 mil crianças de rua no Brasil.

P - O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse certa vez que o Brasil não é pobre, é desigual.
Neves - Isso também é falso, por conta da metodologia utilizada pela ONU. Para começar, índices diferentes de anos diferentes são misturados. São avaliados dados de renda - que têm o problema da informação falsa - e dados de consumo. É juntar abacaxi com laranja. Além disso, o Brasil apresenta índices recentes, mas as informações de Serra Leoa, um dos poucos países que estão atrás de nós, são de 1989. Por último, as realidades dos países são completamente diferentes. Serra Leoa tem 61% das pessoas na zona rural. Como pode ser comparado ao Brasil?

P - Qual é então o grande problema brasileiro?
Neves - Assim como a inflação foi nosso dragão tempos atrás, a informalidade é nosso câncer que está entrando em metástase. A informalidade tem três eixos. O primeiro são os direitos de propriedade. Os barracos das favelas não podem ser comercializados, não podem ser usados para conseguir crédito. O segundo é o trabalho. Estima-se que entre 55% e 60% dos trabalhadores estão na informalidade. São pessoas que não contribuem, não pagam INSS. A carga tributária fica concentrada nos 40% restantes da população. O terceiro é a informalidade na cadeia produtiva. São empresas que estão fora da lei, seja porque os tributos são altos, seja porque a burocracia é complicada.

P - Por que o senhor diz que o Brasil não é um país corrupto?
Neves - A corrupção aparece em todas as democracias. Sempre que há transparência aparece rabo preso. Isso é um bom sinal. No Brasil, temos rotatividade no poder. Temos também ONGs que monitoram as contas públicas. Há liberdade de imprensa. Na crise do mensalão vimos um trabalho exemplar dos veículos de notícia. A Lei de Licitação Pública é de 1992. Até então, obras faraônicas eram construídas por indicação de ministros. Há a Lei de Responsabilidade Fiscal. Temos portais eletrônicos do governo que permitem monitorar os empenhos do Tesouro Nacional.

P - E a classe média não está encolhendo?
Neves - Encolhendo, não. Mudando. Essa classe média é herdeira da porção de Bélgica da Belíndia (mistura de Bélgica e Índia, expressão usada na década de 70 para explicar a desigualdade no Brasil). Ela antes tinha acesso ao sistema financeiro habitacional, a universidades públicas, à expansão de empresas estatais cheias de ofertas de trabalho e à indexação, que reajustava o dinheiro nos bancos. Na década de 90, essas facilidades acabaram e a classe média passou a ter mais gastos. É como se ela tivesse viajado sempre de executiva e agora tivesse de andar de econômica. Em compensação, existe uma população que era de baixa renda e ascendeu. É gente de bairros como Nova Iguaçu, no Rio, ou São Caetano, em São Paulo, que não estava no mapa tradicional da classe média.

P - O senhor não tem uma visão muito otimista do Brasil?
Neves - Não. As perguntas mudaram. Sai a questão da pobreza, entra a da informalidade. Existe um estatismo exagerado. O Brasil tem 5.577 cidades. Mas os municípios viáveis estão em cerca de dez regiões metropolitanas, que somam no máximo 300, 400 cidades. O resto vive à base de fundos de participação municipal. É aí que temos de resgatar a semântica positiva da palavra elite. Precisamos ser mais produtivos.

Fim

domingo, março 12, 2006

Jornalismo Econômico: a Sedução do Poder


Por José Antônio Sarcinelli
(Repórter da Editoria de Economiado Jornal "A Gazeta" - Vitória- ES)

Uma leitura rápida nas páginas econômicas dos jornais de hoje é suficiente para perceber que a reportagem de economia passou a concentrar seu foco em apenas um segmento da sociedade: a classe empresarial e seus representantes. As equipes de reportagem estão posicionadas junto ao poder político e econômico - presidente, governadores, prefeitos, deputados, ministros, senadores, vereadores e empresários - vendo o país e sua realidade econômica e social apenas pelo ângulo do poder, ignorando a parcela mais significativa da sociedade: trabalhadores, aposentados, donas-de-casa, estudantes, microempresários e funcionários públicos.
O jornalismo econômico, seja o praticado nos jornais de circulação nacional - como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Globo -, ou nos regionais, simplesmente excluiu os já socialmente excluídos. Raras são as matérias abordando as condições de vida, os sonhos e os atos dos sem-teto, sem-escola, sem-família, sem-saúde, enfim, sem-cidadania. A realidade econômica e social, fruto da má-distribuição da renda, tão visível nas ruas de nossas cidades, parece não ter força para chegar até as páginas dos diários.
É claro que os excluídos não dispõem do mesmo aparato técnico e institucional das empresas e organismos políticos - assessoria de imprensa, fax, e-mail - para inundar as editorias de releases. Talvez nunca tenham colocado o pé dentro de uma redação de jornal. Muito menos conhecem o editor e os repórteres. E não presenteiam com agendas e outras quinquilharias no Natal e no Ano Novo. A capacidade de disputar com o poder político e econômico as páginas de Economia, dentro da estratégia de lobby que cerca as redações, é muito pequena, para não dizer nenhuma.

Produtos, balanços e investimentos

A temática, com raras exceções, é praticamente uniforme: lançamentos de produtos, balanços setoriais e investimentos - A nova cerveja da Antárctica; as vendas do setor de material de construção no semestre; o comércio menor de produtos importados; a proposta de compra da Acesita feita pela Usiminas; os consórcios formados para a compra do terminal de contêineres do Porto de Santos; lançamento de US$ 500 milhões em bônus por parte da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); o investimento de US$ 300 milhões da Ford em Taubaté (SP).
Depois de décadas de economia fechada, a globalização chega ao país de forma avassaladora, envolvendo a todos. A velocidade das mudanças atropela a reflexão. Os editores, que definem os temas que serão abordados pela reportagem no dia-a-dia do trabalho jornalístico e apontam o enfoque a ser dado a cada assunto, foram, ao que parece, "engolidos" por este fenômeno. A abertura e a competição do mercado, a modernidade, se transformaram, da noite para o dia, nos principais dogmas da economia e os valores anteriores, em fósseis jurássicos.
Os reflexos destas mudanças na sociedade, entre eles a quebradeira de empresas nacionais, principalmente as de pequeno e médio porte, e o desemprego, não estão na pauta do dia - a globalização concentra mercados nas mãos de poucas multinacionais e reduz o número de postos de trabalho, por conta da introdução de novas tecnologias e pelo maior grau de automação. O senso crítico está, em boa parte, sendo anestesiado pelo glamour de um mundo funcionando como uma só aldeia.
A busca de informações privilegiadas - a necessidade egocêntrica de "furar" o concorrente - sobre novos investimentos, principalmente no setor industrial e financeiro, transformou-se numa verdadeira obsessão. A globalização econômica contribuiu para acirrar a disputa por estas informações, na medida em que inseriu o país na rota dos capitais internacionais. A cobertura sobre os projetos, em especial os das montadoras de veículos, virou uma grande festa. A cada dia as páginas mostram, com ar triunfante, uma nova fábrica de carros aportando no país.
A competição comercial entre os veículos induziu as Redações a uma verdadeira corrida pelo "furo" de um novo investimento. E dentro desta corrida, a ética muitas vezes acaba atropelada. A informação verdadeira, medida, checada, nem sempre predomina.
Linhas e linhas de texto, apoiados em fontes incógnitas - offs e mais offs - inundam as páginas econômicas, abrindo espaços para a leviandade. Como provam, no dia seguinte, as notas oficiais de desmentido.
E no meio disso tudo, o que pensam os Josés e as Marias deste país, que constituem 80% da população economicamente ativa e sobrevivem com renda - formal e informal - de no máximo três salários mínimos (R$ 360,00)? Entre eles o metalúrgico desempregado que sustenta a família com a venda de sanduíches em porta de fábricas.
O que pensa o poeta José Gilberto Gaspar, do bairro paulistano da Casa Verde, cuja ótica - apresentada aos participantes do Master em Jornalismo para Editores - é a da simplicidade da vida, da cordialidade e da solidariedade entre os homens? Mercosul, evolução do PIB, desempenho da balança comercial, oscilação nas bolsas de valores, Nafta, os novos veículos importados são temas de real interesse para esta que é a maior parcela da população?
O Todo e a Parte
A abertura para o todo, conceito defendido pelo filósofo Josef Pieper, em seu ensaio sobre o papel da universidade - onde lembra que o espírito de uma instituição desta natureza deve ser o de reunir todos os valores, tudo o que cerca o homem, e não seccionar a realidade -, serve como uma luva para o jornalismo econômico, dentro do que deveria ser o seu verdadeiro papel: espelhar a realidade, para que a sociedade, vendo a si mesma, busque as mudanças que se fazem necessárias para promover o bem estar de toda a população.
"Ao homem não é necessário apenas ampliar o seu saber acerca do mundo, mas talvez seja mais necessário ainda lembrar-se das verdades imutáveis e ser lembrado dela. E fazer isto de espírito inteiramente vigilante, sem fugir romanticamente da realidade, nada esquecendo ou desprezando do que, criticamente, sabemos sobre nós próprios e sobre o mundo", destaca Pieper no ensaio.
O filósofo alemão Karl Marx, no século passado, fez uma radiografia da nova organização social emergente da chamada reforma industrial, que permanece bem atual. Em sua obra, Marx mostra que esta nova organização, o capitalismo, tem como base a divisão da sociedade em classes de interesses conflitantes: a dos donos dos meios de produção (capital) e a dos que possuem apenas a força de trabalho (operários). O objetivo da primeira é agregar valor ao capital, através de ganhos sobre a produção do trabalho. A segunda participa do processo econômico como a força reprodutora deste mesmo capital, recebendo em troca uma parcela - bem pequena - da riqueza gerada.
A obra de Marx teve ampla repercussão e em cima dela foram estabelecidas as bases para uma nova sociedade, sem divisão de classes, baseada no socialismo. A queda do "Muro de Berlim" pôs a pique as primeiras experiências na formação da nova sociedade esboçada por Marx. Errado, porém, é jogar na lata de lixo da história a sua obra, principalmente a que desnuda o capitalismo, que vigora agora como a organização sócio-econômica vitoriosa da guerra fria. Esta radiografia está longe de ser "jurássica", tamanha é a sua atualidade. é claro que o capitalismo evoluiu e atualmente opera de forma muito mais complexa que na época dos estudos de Marx. Mas o embrião da realidade - e que marca a atividade econômica no Brasil, como no restante do mundo - permanece: a divisão social.
As relações entre estas duas classes básicas e os conflitos que as permeiam são na verdade o todo, na esfera econômica, lembrado por Pieper, no ensaio sobre a abertura da universidade. A partir do momento em que o jornalismo econômico ignora esta realidade, passa a encobrir os verdadeiros valores que impulsionam a economia e que explicam em boa parte as bonanças e mazelas deste país. E o desvia de seu papel de mostrar a realidade - e não uma imagem parcial dela - para que os agentes sociais possam, dentro do jogo democrático, promover as reformas necessárias ao bem estar coletivo.
A concentração de notícias empresariais no noticiário econômico dos jornais brasileiros, entretanto, afasta o jornalismo econômico do papel de promotor do bem estar social. A limitação dos temas desestimula o debate social, na medida em que a realidade é omitida. Deixa neste caso de atuar como um agente que vem lembrar à sociedade os valores esquecidos. Algo parecido com o que fazem as artes, a filosofia e a linguagem no contexto da humanização do homem, dentro do conceito da antropologia filosófica, que qualifica o homem como um "ser que esquece".
O que poderia justificar esta limitação do noticiário econômico? Falta de criatividade da pauta? Sedução do poder político e econômico? Sedução da chamada modernidade, que passou a considerar valores passados como "jurássicos" - estatismo, distribuição de renda, luta de classes etc.? O momento é de reflexão, principalmente quando nos aproximamos de uma nova eleição presidencial (evento raro nas últimas três décadas), o que abre a perspectiva de o país avançar em suas pendências sociais.
A humanização da pauta das editorias de Economia é uma via importante para recuperar a humanização das páginas econômicas dos jornais. é colocando os personagens reais deste país - a sua população - no centro do noticiário, que os Josés e as Marias ganharão corpo e voz. Ou seja voltarão a ser pessoas, com dramas, sonhos e ações, os mesmos dos leitores. Sem esta humanização da pauta, prevalecendo apenas a realidade sob a ótica do poder econômico e político, ou seja, o posicionamento preferencial junto a empresários e dirigentes políticos, cada vez menos serão os seus leitores. E num momento em que o índice de venda de jornais mostra sinais de queda, não é uma boa estratégia para os veículos distanciarem-se de seu verdadeiro público.